Colonização


COLONIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DAS COMUNIDADES

Será possível depois de 100 anos de história Paroquial revitalizar memórias sobre o trilhar das Comunidades Evangélicas na Colônia Alto Jacuí? Revitalizar memórias é uma tarefa árdua, pois os fundadores, seus filhos e muitos de seus netos já não estão mais entre nós. Para entender o surgimento e formação de uma Comunidade e Paróquia Evangélica na Colônia Alto Jacuí é necessário tomar como ponto de partida as primeiras comunidades de imigrantes instaladas nos arredores de São Leopoldo posicionando-se sobre o entendimento da efervescência populacional que se estabelecera nas Colônias Velhas devido o fluxo imigratório somado com o crescimento vegetativo da população. Sobre essa realidade RAMBO (2004) aponta:

“...as famílias eram numerosas, e a mortalidade infantil relativamente pequena para a época e ao mesmo tempo, os lotes coloniais com suas dimensões limitadas não permitiam senão uma ou duas subdivisões. Levantamentos feitos para a época mostram que cada 1.000 famílias geravam na média por ano nada menos do que 200 excedentes, candidatos natos para a migração em busca de novas terras. Como o ritmo do crescimento populacional se dá em progressão geométrica, fica fácil imaginar a efervescência e a movimentação no seio das colônias imigrantistas, durante estes quase dois séculos.”  (Rambo, 2004, pg36)

Tudo isso impulsionou o movimento migratório via trem, a cavalo e até com carroças de boi para chegar as Novas Colônias, pois as Colônias velhas não oportunizavam muitas perspectivas de vida, era necessário ousar e sonhar com a terra própria nas novas Colônias, pois no decorrer da década de 1880, esgotaram-se as últimas reservas de terras disponíveis nas bacias dos rios dos Sinos, Caí, Taquari, Pardo e Jacuí e a pressão por mais terras virgens aumentava e a única forma capaz de aliviar essa tensão encontrava-se na abertura de novas fronteiras de colonização ao norte e oeste do Estado. Assim surge a Colônia Alto Jacui, que é povoada a partir de 1895, desencadeando desta forma a formação de novos núcleos residências e a formação de comunidades de fé a exemplo daquelas edificadas nas Colônias Velhas.
Conforme Vargas (2003) em 1897 o Coronel Gervásio Luccas Annes, líder político de Passo Fundo, adquiriu junto à Fazenda Nacional uma área superficial de 329.634.394 metros quadrados de terras na mata da Colônia Alto Jacuí. Movido pelo interesse e desejo de promover o desenvolvimento de suas posses, resolveu mandar medir a área dividindo-a em lotes de aproximadamente 2.000 metros por 200 metros. Para este trabalho convidou Alberto Schimidt como sócio, que se deslocou ao Alto Jacuí em meados de 1897, com homens, bagagens e todo aparelhamento necessário e ali fixaram-se num desmatado onde hoje é a cidade de Tapera. Ali foram medidos e demarcados 674 lotes de terras e enquanto a medição ia se processando Schmidt não se descuidou da propaganda. Visando atrair colonos, escreveu cartas para conhecidos e viajou várias vezes até São Leopoldo, São Sebastião do Caí, Santa Cruz do Sul e Garibaldi pondo-se em contato com pessoas de sua relação e de certo prestígio que ajudaram a colonizar o Alto Jacuí.
Os primeiros evangélicos que aqui se estabeleceram não tiveram vida fácil, eles tiveram que colonizar as terras, abrir as matas, fazer as casas. Neste duro começo, a fé evangélica foi um esteio, uma fé que dava esperança de vencer a vida com Deus, uma fé que dava coragem de começar a lida na nova terra. A fé evangélica era o verdadeiro alimento espiritual para estes primeiros colonos. E por ser uma fé que dava esperança, força e coragem, estes primeiros evangélicos não deixaram dela, apesar das dificuldades.
Os colonos que adentraram nestas matas da Colônia Alto Jacuí formando seus lares, seus recantos aos poucos foram se organizando. Construíram suas casas de maneira rústica, pois árvores existiam abundantemente, o pinheiro era opulento e majestoso. Mas como fazer tabuas? O progresso foi chegando das construções de lascão, pau a pique amarradas com cipó e cobertas com palhas, galhos e folhas, foram surgindo às serrarias, olarias, atafonas e a evolução dos pequenos povoados se percebia notoriamente. Muitas crianças precisavam de batismos, falecidos precisavam de enterro e como não havia pastores, as próprias comunidades escolhiam aqueles membros que pudessem ajudar a batizar, enterrar, aconselhar, dirigir cultos. Mais tarde pastores itinerantes que passavam nas casas das famílias começaram realizar ofícios religiosos, as dificuldades iniciais de estabelecimento dos colonos estavam vencidas, a vida comunitária começava a florecer e assim no trabalho de mutirão as igrejas eram construídas, mas não era permitido que essas construções tivessem estilo de igreja e que fosse colocado torre ou cruz na sua frente ou no telhado, pois o Brasil era um país Católico e o catolicismo era a religião oficial do país e os evangélicos não tinham os mesmos direitos que os católicos.
Esse fato inclusive aconteceu com muitas construções de igrejas de comunidades da Paróquia de Tapera e dessa forma vem uma indagação: O que justificaria mesmo depois do advento da República muitas igrejas de comunidades da Paróquia de Tapera serem construídas sem torre e sem cruz. Seria falta de informação dos colonos? Ou medo de represaria e perseguição por católicos fanáticos? Respostas para tais perguntas certamente será muito difícil encontrar, mas quem sabe suposições poderão ser delineadas no decorrer da pesquisa. Outra dificuldade pela qual passavam os evangélicos era que casamentos realizados em comunidades evangélicas não eram reconhecidos, o casamento passou a ser reconhecido a partir de 1889 com o advento da república, mas o preconceito perdurou ainda por muitos anos. Neste sentido, fazer parte de uma comunidade Evangélica era sacrificado e difícil e situações de exclusões de direitos motivam as comunidades a se organizar para ter seus direitos num país de católicos e está situação fez crescer a esperança por uma união entre os evangélicos.
Partindo desta contextualização é possível afirmar que a maioria das comunidades  desta paróquia partilham de um histórico de formação semelhante com sua especificidade característica representada na localidade e modo de vida das famílias membros. A Paróquia de Tapera em sua área de abrangência atende comunidades de quatro municípios sendo eles:
Município de Tapera/RS
·         Comunidade Evangélica de Tapera;
·         Comunidade Evangélica de Coronel Gervásio. (antiga Linha Alemã);

Município de Lagoa dos Três Cantos/RS
·         Comunidade Evangélica de Lagoa dos Três Cantos;
·         Comunidade Evangélica de Linha Glória;
·         Comunidade Evangélica de Linha Kronenthal. (antiga Alto Jacuy);

Município de Espumoso/RS
·         Comunidade Evangélica de Espumoso;

Município de Jacuizinho/RS
·         Comunidade Evangélica de Campo Comprido;


FONTE LIVRO:
HOFFMANN, Patrícia. Memórias do Centenário Paroquial: O trilhar do Povo Luterano ao Encontro do Evangelho. Tapera: Gespi Ltda, 2009.


Um comentário:

  1. Bom dia. Busco registros de familiares protestantes que residiam na zona de Garibaldi e Estrela os quais possivelmente migraram para a Colônia do Alto Jacuí, Não-me-toque ou Barra do Colorado, após 1895. Tratam-se de membros das famílias Scheer e Sauer. Os patriarcas são: Ernst Gottlieb Scheer c.c Gertrudes Götz; e, Andreas Sauer c.c Maria Scheer. Agradeço se tiverem alguma informação a respeito do paradeiro destas famílias.

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